Fecho os olhos, começo a escrever. Os dedos já conhecem as letras. Fecho os olhos abro o coração. Nas palavras escrevo a vontade de ir mais além, de querer mais, de sentir mais. A dor já não é o caminho que levo em mim, e tudo o que passei o vento levou e a água varreu. Só ficou a lição que se viajamos á chuva, molhamo-nos e é difícil secar depois. Mas sentir a agua lentamente bater-nos no rosto, é como brotar novas folhas, novas vontades. Mesmo que no fim só sobre uma valente constipação, quero viajar á chuva, sentir a agua envolver o meu peito e o meu coração aquecer-lhe os átomos. Toda a fragilidade que sinto, já não tenho medo de mostrar, de partilhar, de transparecer, ele pertence-me, como o ar pertence á minha pele, como a água ao mar. O medo já não é maior que eu, sinto-o na pele. Olho-o nos olhos. Cheiro-o. Aperto-lhe a mão e caminho através dele. Tudo o que me pertence, a minha mão agarra, o que não é meu, deixo ir. Mesmo que o ame, porque amar é deixar ir, quando não nos pertence.
Lá fora é noite e cá dentro? Dia.
A noite escura Enrola os pensamentos Devora a cura E abre os sofrimentos. Humanidade Fonte de escuridão. Luz. Paixão. A quem pertencem os pensamentos, Os eternos momentos, Em que nos fechamos em nós mesmos E curtimos os descontentamentos? Somos capazes de fazer nascer mundos Mas apagamo-los lentamente da existência, Tornamo-nos cegos, surdos, intocáveis, desgostosos, mudos Fechamo-nos numa infeliz ciência. Remissão. Prendemo-nos ao chão, Choramos. Caímos e deixamos. É hora de levantar, Perder medo de cair Medo de falar, Medo de sentir. É tempo de lutar Deixar de ter água nas veias De sentir coisas meias Tempo de cantar! Gritar ao mundo Um verso estridente, Calar o mudo E soltar em nós, gente.
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