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A mostrar mensagens de outubro, 2010

Dedos

Começo a escrever hoje. Sinto a dormência nos dedos, própria de quem esteve paralisado anos. Sinto que toda a minha alma quer explodir cá para fora, mas os dedos, os dedos não sabem ouvir. E vaio escrevendo lentamente, muito lentamente tudo o que a alma ferida arrasta para fora dela. A dor, essa, sorridente joga-se contra as paredes do meu corpo como um tornado se passeia pela imensidão de uma planície, sem oposição, livre, solto. Vou escrevendo as palavras que ela me dita, vou sentindo o vento bater-me de dentro para fora, mas onde estou? Sou palavras ou momentos, sou dor ou sentimentos? Afinal onde estou? Sou um estranho caso de coerência incoerente. Passo a vida a dizer que quero fugir da dor e depois não vivo sem ela, e ela persegue-me, mata-me e devora-me. E eu nasço de novo. E ela mata-me de novo. Sou incapaz de amar. Amei tanto uma pessoa que todo o amor que possa nascer em mim é agora uma escassez, um fruto mirrado do que já fiz nascer. Perdoa-me se morri nos teus braços, apena

Quando

Quando eu morrer, Não me enviem flores Enviem-me cartas Que as flores murcham Mas as cartas perduram. Quando eu morrer, Não me chorem Riam, porque fui feliz. Não quero lágrimas no meu caixão O meu corpo vai viver lá, mas eu não. Vou ser livre, voar sem asas Pelo meio da ilusão. Quando eu morrer Não penso mais na vida Como agora vivo, Não penso mais na morte.