Dedos

Começo a escrever hoje. Sinto a dormência nos dedos, própria de quem esteve paralisado anos. Sinto que toda a minha alma quer explodir cá para fora, mas os dedos, os dedos não sabem ouvir. E vaio escrevendo lentamente, muito lentamente tudo o que a alma ferida arrasta para fora dela. A dor, essa, sorridente joga-se contra as paredes do meu corpo como um tornado se passeia pela imensidão de uma planície, sem oposição, livre, solto. Vou escrevendo as palavras que ela me dita, vou sentindo o vento bater-me de dentro para fora, mas onde estou? Sou palavras ou momentos, sou dor ou sentimentos? Afinal onde estou? Sou um estranho caso de coerência incoerente. Passo a vida a dizer que quero fugir da dor e depois não vivo sem ela, e ela persegue-me, mata-me e devora-me. E eu nasço de novo. E ela mata-me de novo. Sou incapaz de amar. Amei tanto uma pessoa que todo o amor que possa nascer em mim é agora uma escassez, um fruto mirrado do que já fiz nascer. Perdoa-me se morri nos teus braços, apenas não sabia mais viver. Como me posso contentar em surfar em ondas de 2 metros se já surfei num tsunami de emoções? Tenho medo de entrar no mar. Tenho medo que a noite desça e eu não veja o maremoto subir no ar. Tenho medo. Se amanha tiver dedos para escrever, escrevo te uma carta. Hoje fico-me pelas letras que se formam no ar e se transformam em novas formas de te procurar…

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