Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2007

Vida

Solta-se o tempo Como uma pena ao vento Soltam-se as palavras Como pedaços de madeira na água Tudo passa na leveza de um passo Sempre sentido, Nem sempre (com) sentido, Deixamos em cada expressão de tempo Uma fracção de gente Que fica registada com rapidez de uma monção Que aparece e desaparece num ápice Tão rápida que perdemos a noção De tudo o que fizemos, o que se disse… Deixamos para trás uma sombra Um caminho lavrado de penumbra Indefinido, perene. Por mais que tentemos subir a corrente A alma não é gente suficiente Para voltar atrás, Tudo muda, tudo se transforma Num incessante curso de vida, Que se pára, morre.

Outra vida

Chego a casa pouso um maço de poemas sobre a mesa velha de um quarto cansado, poemas escritos por entre as trilhas de um dia exausto, exaustos. Largo-os, agarro um pedaço de pão e vou a janela, adoro sentir o frio encher-me os ossos e lembrar-me que estou vivo. A noite fria continua a dizer-me versos que teimo em não escrever, não é o momento, ainda não. Ás vezes gostava de compreender as mudanças tão rápidas de sentimentos, de momentos e intenções, por isso pouso os poemas, não os quero ler ainda, são, são, não sei o que são. Talvez um dia perceba mais deles do que o que eles percebem de mim agora. Sinto-os cansados, cansados de me percorrerem o corpo e não acharem mais que meia dúzia de recordações, o sangue a correr nas veias e uma inquietude perante mim mesmo. Estão cansados, dizem-me todos os dias que os acordo e os faço sair a rua e gritar quem sou, eles tentam e voltam para casa, exaustos. Perdem-se sempre pelo caminho por entre as folhas perigosas que os agarram. Ainda gritam e

Grito

Senta-te Coloca o teu livro à minha frente Podes gritar. É tempo de gritar! Solta a tua existência em cada corda Que se dissipa no ar Larga a revolta em cada átomo Prende a dor, rasga o calar Pousa o livro, Deixa de escrever por momentos Deixa de poupar a voz Larga os comedimentos! É tempo de gritar! Solta quem és! Deixa de estar Envolta em meios pés. Assenta firme no chão O mundo que carregas na alma Deixa de ser mera multidão E afirma-te enquanto tens força na palma. Agora podes abri-lo, Podes escrevê-lo sem copiar. Levanta-te e ensina o mundo a mudar.

Estar, ausente

Pedaços, Rompem do chão Recordação. Estilhaços. Trilho de incerto, Ter-te perto. Caminho de ausência. Tua essência. Presença, fel, Mel que queima Toque de papel Dor que teima. Voz, Ritmo acelerado Silêncio, Compasso quebrado. Final da melodia, Inicio da música Fim da fantasia. Regresso

Sou?!

Sou uma passagem que o vento ouviu passar de um lado miragem do outro, o mar. Sou traço ténue de uma caneta cansada de escrever o corpo suave e as letras de uma alma usada. Alcanço o vento em cada traço em que me desenham, uma perna, um braço... Fruto de tempos que foram e que venham. Frágil, humano. a este ser insano deram apenas as mãos dedos para um quadro de expansões. Sem restrições, sou fruto da mestria dos dedos que me pintam os medos e me forçam a ilusões. Sou mera passagem, com tanto para dar, sonho de uma viagem, longe de acabar.

Lá fora é noite e cá dentro? Dia.

Imagem
A noite escura Enrola os pensamentos Devora a cura E abre os sofrimentos. Humanidade Fonte de escuridão. Luz. Paixão. A quem pertencem os pensamentos, Os eternos momentos, Em que nos fechamos em nós mesmos E curtimos os descontentamentos? Somos capazes de fazer nascer mundos Mas apagamo-los lentamente da existência, Tornamo-nos cegos, surdos, intocáveis, desgostosos, mudos Fechamo-nos numa infeliz ciência. Remissão. Prendemo-nos ao chão, Choramos. Caímos e deixamos. É hora de levantar, Perder medo de cair Medo de falar, Medo de sentir. É tempo de lutar Deixar de ter água nas veias De sentir coisas meias Tempo de cantar! Gritar ao mundo Um verso estridente, Calar o mudo E soltar em nós, gente.