Outra vida

Chego a casa pouso um maço de poemas sobre a mesa velha de um quarto cansado, poemas escritos por entre as trilhas de um dia exausto, exaustos. Largo-os, agarro um pedaço de pão e vou a janela, adoro sentir o frio encher-me os ossos e lembrar-me que estou vivo.
A noite fria continua a dizer-me versos que teimo em não escrever, não é o momento, ainda não.
Ás vezes gostava de compreender as mudanças tão rápidas de sentimentos, de momentos e intenções, por isso pouso os poemas, não os quero ler ainda, são, são, não sei o que são. Talvez um dia perceba mais deles do que o que eles percebem de mim agora. Sinto-os cansados, cansados de me percorrerem o corpo e não acharem mais que meia dúzia de recordações, o sangue a correr nas veias e uma inquietude perante mim mesmo. Estão cansados, dizem-me todos os dias que os acordo e os faço sair a rua e gritar quem sou, eles tentam e voltam para casa, exaustos. Perdem-se sempre pelo caminho por entre as folhas perigosas que os agarram.
Ainda gritam enquanto as folhas lhes silenciam os últimos passos, sempre que alguém lhes lê a sequencia certa soltam um gemido seguido de um agudo querer, leio-os e sinto-os cansados.
Devoro o último pedaço de pão, fecho a janela e vou dormir. Até amanhã poema.

Comentários

Anónimo disse…
que lindo. gostei desse poema e senti na pele até o frio a entrar nos ossoso :) hje deixo um poema mais ao estilo natalino.
já viste o meu cubo das fotos ? vem ver e me diz se gostas
uma boa semana paar ti
bjo
carla granja
Meu querido poema (David)

desejo-te um Natal cheio de poesia e um 2008 com muitas coisas que voem...

beijos

Mensagens populares deste blogue

Lá fora é noite e cá dentro? Dia.

Carne

(re)senti-me