Fronteira

Sinto todo o meu arrepio
Juntar se no coração
Como a dor de uma facada
No último instante cravada…
Enquanto desapareces no fim da minha visão
As minhas veias vão ficando secas
A dor já é leve, ténue até
Diz-me porque me fizeste ter fé?
Se tudo o que querias eram palavras doces
Com um cheiro à tua infância
Tudo o que querias era que fosses
De novo liberta, protegida do mundo de inconstância
Querias uma mão para agarrar
Não aquela mão que tenta segurar
E tenta acompanhar.
Sinto um arrepio incontido
Esmagar a minha alma contra as paredes do corpo
Quer sair, mas a faca
A faca ainda a prende contra si mesma
É suicídio,
Um esforço doentio
Para quebrar a faca antes do final
Quando tudo quer ficar é difícil arrancar
Tudo parece mal,
Parece quebrar…
Tapo os olhos, oiço o que deixaste de coração
Naquela prateleira onde nunca conseguiste chegar
Bate suave, compasso incerto
Uma melodia sem ritmo
Sinto-o longe, mas bate perto
De olhos fechados toco a faca,
Seguro-a na minha mão
Tiro-a lentamente,
Enquanto sinto o fio largar-me o coração
A confusão é um momento convincente
Quero viver, mais do que tu tens a querer
Quero rasgar toda a pele que te tocou
Deixa-la aqui junto da faca que me magoou
Deixar esta rua onde o mundo parou
E a verdade soou,
Triste, simples e minha.

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